Como perder a Vergonha?

A vergonha é uma emoção que faz parte do ser humano, é uma vivência que mostra nosso caráter como seres sociais. Ela é um regulador nas interações sociais e ocupa um papel fundamental em nossas subjetividades. Quer saber mais? Confira o texto abaixo!

O que é a vergonha?

Para viver em sociedade temos que obedecer certas leis, no sentido daquilo que é dito como proibido e obrigatório, portanto, cada cultura forma suas próprias normas regulatórias. Nesse contexto, a vergonha surge como um sentimento doloroso e angustiante, quando o olhar do outro atinge e nos torna vulneráveis, fracos e derrotados perante a imagem que achamos que passamos, essa imagem que foi desmascarada pela observação de um alguém. A moralidade e a inibição estão também associados a este sentimento.

Culpa ou vergonha?

Ambas as emoções são derivados da relação do Eu com o Outro, mas as respostas que se seguem são bem diferentes. A culpa resulta de uma transgressão de uma regra contra um sujeito, já a vergonha é um afeto que atinge a imagem da própria pessoa pelo olhar julgador de outras. A vergonha é da ordem narcísica, ou seja, a representação de si mesmo está em jogo, é uma fraqueza que se revela.

A moralidade e a rigidez 

A moralidade é uma construção social concebida através das primeiras interações sociais, inicialmente com nossos pais ou primeiros cuidadores, nessa equação são passadas as interdições e censuras. A vergonha surge pela consciência de si e separação do Eu do mundo, e através das interdições internalizadas que passam a constituir nosso ser. 

Nesse sentido, esse sentimento é um importante regulador social. Mas e nos casos das grandes inibições? A rigidez com a própria imagem e a proteção contra as críticas são mecanismo de defesa do sujeito, seja por um conjunto de vivências punitivas ou traumáticas, ou pela crença de sua auto imagem quebradiça seja revelada. Ela se inscreve também no corpo: transpiração excessiva, tremor e  rubor, e se manifestar em casos mais graves como inibições, quando algumas funções são parcialmente ou totalmente paralisadas; a pessoa deixa de frequentar, fazer certas ações, ao se esconder e fechar em si mesmo.

É possível superar?

Quanto maior for a distância entre o Eu e o Ideal do eu, mais forte aparece o sentimento de desqualificação. O ideal do eu é aquela representação ou modelo do qual queremos alcançar, onde acreditamos ser dignos de afeto e amor. Ela é uma ferida narcísica que atinge a autoestima. Igualmente é possível perceber, que quanto maior for a distância do sujeito com o mundo maior esse afeto, como nos casos de discriminações diversas pela etnia, sexualidade, gênero, idade, etc. Estas barreiras se impõem sobre aquele que tem o temor de errar, ser julgado e discriminado.

Devido ao que foi exposto acima, abre-se uma pergunta: É possível superá-la?

Acredito que há mais questões do que respostas para esta pergunta, porém, esta perturbação pode ser vivenciada de diferentes graus e comprometimentos, desde à timidez, ou em casos mais graves, em que ocorre um total afastamento e recolhimento. É importante observar a origem e os momentos que esta aparece, bem como, tentar abrir-se aos poucos à situações, por mais que sejam dolorosas, e se for muito difícil, creio que o processo de análise ou psicoterapia poderá ajudar. Ao falar sobre as dificuldades e conflitos com o profissional pode ampliar a abertura à exposição ao outro, capaz de aumentar o repertório de exteriorização social.

Atualizado em: 30/06/2022 na categoria: Interpessoalidade